O mundo inteiro vive uma situação de fragilidade financeira. A crise
económica abalou o mundo e com consequências sérias para vários países, alguns
dos quais são os principais parceiros de Cabo Verde, como é o caso de Portugal.
A situação que se vive no mundo como não podia deixar de ser, está fazer
sentir-se também em Cabo Verde. Para estarmos preparados no sentido de fazer
face aos impactos da crise no país, durante duas semanas o Chefe do Governo de
Cabo Verde, José Maria Neves, reuniu-se com os principias representantes das
mais diversas instituições e organizações da sociedade cabo-verdiana com o
objectivo de, juntos, reflectirem e dialogarem sobre a crise, seus impactos no
país e as medidas a tomar para se combater os impactos em Cabo Verde.
O Bispo da Diocese de Santiago de Cabo Verde, Dom Arlindo Furtado, foi uma
das personalidades que se reuniu com o Primeiro-Ministro José Maria Neves. O
encontro teve lugar no passado dia 08 de Novembro do corrente ano no Palácio do
Governo e serviu para falarem sobre a situação económico-financeiro e social que
abrange todo o mundo e Cabo Verde.
“Houve uma troca de impressões partilha de ideias, de percepção da situação e
das preocupações que advém desta situação que afecta muito as famílias
cabo-verdianas e a população em geral. Falamos da situação crise e da
necessidade de austeridade e de como devemos em conjunto preparar enfrentar e
superar o problema. Esta pode ser ocasião de reflexão, de mudança na nossa vida,
de algumas coisas para podermos prepararmo-nos melhor para o futuro”, conta D.
Arlindo Furtado sobre o encontro com o Primeiro – Ministro.
A situação de fragilidade financeira que se vive no mundo inteiro,
actualmente, preocupa o representante máximo da Igreja Católica na região de
Sotavento de Cabo Verde. Através do site da Diocese, Dom Arlindo Furtado quis
partilhar a sua preocupação sobre a crise mundial e, também aproveitou para
alertar os cristãos e não só, sobre o problema e apelou à contenção nos
gastos.
“Os cristãos fazem parte do conjunto dos cidadãos deste país, naturalmente
se o país tem dificuldades, todos nós ressentimos. O que se pretende é que o
sacrifico exigido perante a exigência da crise, o facto de termos de enfrentar
essa crise, torna necessário a austeridade. Mas o sacrifício exigido deve ser
repartido por todos de forma proporcional e mais equitativa possível.
Normalmente, os mais pobres é que pagam a factura mas, as coisas devem ser
divididas de uma forma proporcional por todos os cidadãos. Há uma situação de
penúria e nós todos devemos contribuir para a superar de uma forma mais justa
possível.
Dom Arlindo abordou um segundo aspecto. « Há dimensões sociais de pessoas que
já vivem na situação de fragilidades em que devem ser minimamente salvaguardadas
de forma cuidadosa para que as pessoas não caiam na pobreza extrema. Há pessoas
que vivem de pensão social ou tem fragilidades específicas que precisam de
apoios específicos da sociedade, há que ter isso em conta», alertou o Bispo de
Santiago de Cabo Verde.
Dom Arlindo aproveitou para deixar uma mensagem aos cristãos e aos
cabo-verdianos em geral, nesta altura que a situação financeira, económica e
social a nível global passa por uma situação de fragilidade.
“Aproveito esta ocasião para apelar a todos os cristãos e a todos os meus
concidadãos de que, de facto, devemos fazer uma gestão mais correcta dos
recursos que temos. Em Cabo Verde, temos uma tendência, muito fácil em ordem ao
esbanjamento, isto é notório em certas ilhas mais do que noutras. Em certas
ocasiões de festas gastamos mais do que o necessário e, muitas vezes, mais do
que temos e isto não é correcto. Lanço um apelo aos cristãos que, por ocasião
dos funerais, dos baptizados, dos casamentos, do sacramento de confirmação e,
também, nas festas de finalistas e aniversários, onde se festeja exagerando nos
gastos. Não precisamos gastar muito como costumamos fazer. Basta um gesto, uma
atitude, uma confraternização sóbria, moderada, inteligente digna e isto é
suficiente e não o esbanjamento. Acho que isto é muito importante, face a
situação que se vive actualmente. Há o hábito de os cabo-verdianos gastarem em
coisas que não são prioritárias. É preciso estabelecer uma hierarquia de valores
e dar prioridades a certas coisas, que outras esperam por uma outra
oportunidade», adverte o Bispo.
Precisamos de ser mais disciplinados mentalmente, aprender a fazer uma gestão
mais inteligente dos recursos e a ter paciência para ter certas coisas numa
ocasião mais favorável. Isto, eu falo como bispo e é um apelo que faço aos
cristãos para sermos muito mais moderados em certos gastos, mesmos em
celebrações de sacramentos da nossa fé, para sermos razoáveis e dar bons
exemplos aos outros, porque os cristãos devem ser luz e sal mesmo nessas
pequenas coisas”.